Vamos cuidar do nosso bem-estar em 2024
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Estamos em tempo de retrospectiva. O ano de 2023 foi bom? Foi ruim?

E estamos também em tempo de projeções. De boas expectativas, de desejar coisas boas a quem se tem afeto.

O problema é que, ao mesmo tempo, estamos vivendo uma era de muitos paradoxos. E isto pode fazer pender a nossa balança emocional, ora para o lado do otimismo, ora para o lado do pessimismo generalizado, que costuma causar uma certa inação.

No meu microcosmo, estou buscando o otimismo. Mas, claro, com os dois pés na realidade. Aqui no país, sim, depois de seis anos de muitos retrocessos,  estamos começando a tirar a cabeça para fora da lama e respirando. Isto já é ótimo.

Já no mundo… tem-se que dar nó em pingo dágua para tirar alguma boa notícia da avalanche de tragédias, guerras, mortes, genocídios, fome.

Ontem mesmo recebi, por email, um relatório que acabou de ser publicado pela Unicef – agência da ONU para a Infância – com o resultado de estudos feitos sobre a fome a pobreza na infância. O diferencial desse relatório é que foi feito entre os países mais ricos do mundo, que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Pois em tais nações há 69 milhões de crianças que vivem na pobreza, diz o estudo.

“Trata-se de crescer numa casa sem calor suficiente ou alimentos nutritivos. A pobreza significa não ter roupas novas, nem telefone, nem dinheiro para uma festa de aniversário. Estas privações têm consequências que podem durar a vida toda. A investigação mostra que as crianças de famílias pobres têm menos probabilidades de concluir uma boa educação. Em alguns países, a investigação indica que a vida é oito a nove anos mais curta para uma criança nascida numa área pobre do que para uma criança nascida numa área rica”, diz o texto.

Se a notícia já é chocante dessa forma, aguardem porque vai ficar pior. Nos Estados Unidos, nação mais rica e poderosa do planeta, cujo governo gastou, em 2022,  US$ 877 bilhões com armas que são enviadas para outros países, a proporção é que uma em cada quatro crianças vive sob essa condição de pobreza.

Não quero estragar as festas de fim de ano de vocês, por isso vou parar de dar detalhes sobre o estudo, mas deixo aqui o link para quem quiser. E, afinal, eu mesma já me canso de ler notícias que me deixam com a sensação de extrema impotência. O que fazer?

Cada um saberá escolher um jeito mais conveniente para não se afastar inteiramente das questões importantes do mundo e, ao mesmo tempo, não se sentir refém de tanta tragédia. Não vamos cair em platitudes, mas é possível achar coisas boas para pensar, que não sejam os atos caridosos que costumam encher as redes nessa época do ano.

Prefiro, por isso, lembrar a vocês que cuidar da saúde é, para mim, uma verdadeira peça de resistência. Não quero ficar doente por excessos ou falta. Prefiro manter a dose certa. E provocar reflexões sobre como entender meu lugar no mundo, administrar as emoções, lidar com o próximo com o devido respeito, sem largar mão do que é importante para me sentir bem.

E, para não perder o hábito, deixo aqui, como presente de fim de ano, a sugestão de leitura de um livro pequeno, de texto fácil, chamado “Lições de estoicismo – O que os filósofos antigos têm a ensinar sobre a vida”, de John Sellars (Ed. Sextante). O estoicismo é uma escola de pensamento que se originou-se na cidade de Atenas próximo ao ano 300 a.C. Há muitas tentativas de resumir o que os estóicos pregavam, e nem sempre este é o melhor caminho para entendê-los de fato.

John Sellars apresenta as principais ideias dos três grandes estoicos romandos: Sêneca, Epicteto e Marco Aurelio. O autor tira algumas conclusões, mas também informa bastante, e quando resume, conduz a uma reflexão, como no seguinte trecho:

“Somos animais sociais decentes e sensatos. Obviamente, muitas coisas podem acontecer e alterar esse processo de desenvolvimento, e, assim, nos percebemos vivendo de um modo que não está em sincronia com nossas inclinações naturais mais profundas. Quando isso acontece, nos tornamos infelizes”.

É mais ou menos assim que Epicteto pensava: podemos ter controle sobre certo conjunto de ações mentais, mas não o mundo à nossa volta. Temos controle sobre tudo que realmente importa para nosso bem-estar.

E, uma vez conseguido esse bem-estar, seremos pessoas capazes de ajudar outras pessoas, se assim o desejamos. É claro que tem muito mais coisas envolvidas, incluindo as emoções, mas é fato que Epicteto trazia como filosofia de vida, sobretudo, “permanecer atento a cada momento do dia, estar preparado para o que virá”.

Ou seja: faça contato com seu entorno. Todo o tempo. É a melhor maneira de perceber a quem ajudar, como ajudar, quando ajudar. E de que maneira nós, como cidadãos civis, podemos agir para mudar o cenário que foi descrito no relatório da Unicef.

Feliz festas no dia da virada. E um excelente 2024 para todos!  Ah! Se tiver pets, cuide deles com carinho na hora dos fogos, por favor. Seus ouvidos são muito, muito sensíveis ao barulho. A foto é de Tiago Ghizoni/NSC/Arquivo, e foi originalmente publicada no site G1.

Amelia Gonzalez é jornalista, foi editora por nove anos do caderno Razão Social do jornal ‘O Globo’ e colunista do Portal G1, também da Globo. Atualmente mantém o Blog Ser Sustentável, onde escreve sobre desenvolvimento sustentável e colabora na Revista Colaborativa Pluriverso e aqui, na revista Entrenós, uma parceria da Casa Monte Alegre e a Pluriverso.

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