Hoje é Dia do Índio.
Deveria ser todo dia, como canta Baby do Brasil? Sim! Há, inclusive, quem considera preconceituoso se comemorar a data, um único dia dedicado aos povos originários do país. Vamos combinar, então, que pode ser, tão-somente, um dia a mais para se celebrar o povo que, de fato, vive, sente e conhece o ambiente que os não-índios respeitam tão pouco.
É também um dia para se conhecer mais detalhes sobre os indígenas. Justamente por conta da efeméride, a MapBiomas, plataforma que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, veiculou hoje dados inéditos sobre as terras indígenas do Brasil, corroborando o que muitos estudiosos vêm confirmando há tempos. Os povos indígenas são os guardiães da floresta. Mesmo a muito custo, muitas vezes sendo vítimas de muita violência.
Segundo o MapBiomas, as terras indígenas ocupam 13,9% do território brasileiro e têm 109,7 milhões de hectares de vegetação nativa, que correspondem a 19,5% da vegetação nativa no Brasil em 2020. A perda geral de vegetação nativa no Brasil nos últimos trinta anos foi de 69 milhões de hectares. Mas as terras indígenas estão entre as áreas mais protegidas.
Enquanto apenas 1,6% do desmatamento (1,1 milhão de ha) recai sobre as Tis, nas áreas privadas a perda de vegetação nativa chegou a 47,2 milhões de ha, o que representou 68,4% de toda a perda de vegetação nativa no Brasil entre 1990-2020. São os dados do estudo divulgado pelo MapBiomas.
Vale visitar um pouco a história, que ajuda a fomentar esta imagem. Em 2018, a então Relatora Especial das Nações Unidas para os Povos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, divulgou um relatório condenando a ideia de que, para proteger florestas e preservar a biodiversidade, é preciso isolar alguns territórios, transformando-os em unidades de conservação.
“Este modelo – favorecido pelos governos há mais de um século – ignora as crescentes evidências de que as florestas prosperam quando os povos indígenas permanecem em suas terras e têm direitos legalmente reconhecidos para gerenciá-las e protegê-las”, disse a autora à época.
No relatório, ela afirma que os povos indígenas deveriam ser vistos como “gestores efetivos de biodiversidade e conservação” e “guardiões primários da maioria das florestas tropicais remanescentes do mundo”.
Não custa dizer, ainda, que as crianças indígenas são tratadas de maneira muito diferente do que as crianças não indígenas. No site do Portal Amazônia, a pós-Doutora em História pela Universidade Lusófona de Humanidades e Artes, Maria das Graças de Souza Teixeira, responsável por várias pesquisas voltadas para crianças indígenas, afirma que o ambiente indígena é marcado pela ludicidade. E mais: na sociedade indígena tanto as crianças, quanto os adultos e idosos são respeitados e não são tolhidos quanto suas atividades.
Para Maria das Graças, um dos maiores problemas no Brasil é a falta de registros históricos da vida das crianças nas comunidades indígenas.
“É uma memória esquecida. Pouco se sabe sobre como as crianças desses povos eram, ou como se divertiam, quais eram seus brinquedos. Temos poucos registros e materiais no Brasil”, disse ela. Ainda há tempo para se corrigir esta lacuna. Basta que políticas públicas sejam feitas para respeitar os povos indígenas.