Peço perdão se você, caro(a) leitor(a), está preferindo não pensar sobre o caso /catástrofe que aconteceu hoje (5) em Blumenau.
Entendo perfeitamente quem não quer nem saber o nome do infeliz que fez aquilo, me solidarizo com quem não quer conhecer as histórias das famílias ou ver as fotos das crianças. Nossa rotina atual, com tantos estímulos eletrônicos, tantas informações, exige que se respeite o corpo.
Se está demais, por favor, pare mesmo de ler ou ouvir falar. Sou jornalista, e meu ofício me obriga a ter uma “vida sobrecarregada de saber”, como escreveu Robert Musil. Para minha sorte, sim, eu leio Robert Musil, “O homem sem qualidades”, que me alimenta também de outros modos.
Mas também entendo e respeito aqueles que precisam ficar sabendo de tudo, que buscam avidamente as notícias. Estamos vivendo tempos difíceis.
Sendo assim, em primeiro lugar eu quero prestar toda a minha solidariedade às vítimas e dizer que meu pensamento está com elas, minha atenção está com elas. E que eu não posso nem chegar perto de imaginar sua dor.
Em segundo lugar, quero dizer que precisamos de mais amor, de mais arte em nossas vidas. Uma energia ruim nos ronda há quatro anos, mas é preciso que se tenha energia e potência para espantá-la. “Um pouco de possível”, como pedia Gilles Deleuze, pode vir, justamente, das pessoas que nos ajudem a respirar outros ares. A arte, a cultura, a imaginação nos salvarão, e a certeza que tenho ao dizer isto vem do meu desejo.
Quem leu o meu post anterior há de se lembrar que eu estava num momento bem distópico. E que o vizinho me ajudou a perceber outros ares.
Decidi, agora, materializar a solução que estou apontando. De quebra, penso que posso ajudar aquelas pessoas que querem, que precisam ouvir notícias boas. Sim, tem coisa boa acontecendo. Vejam esta notícia que meu amigo Richard Riguetti, o palhaço Café Pequeno, mandou-me por zap:
“Nos meses de abril e maio, o projeto “Palhaço na porta de casa” percorrerá oito espaços públicos, levando diversas atividades gratuitas como oficina de palhaço, cortejo circense, espetáculos de palhaços/as e rodas de conversas para divertir, formar e refletir sobre cidadania”.
A iniciativa é da Eslipa – Escola Livre de Palhaços, sob coordenação de Riguetti. A Eslipa convidou uma turma grande para tocar o projeto e para comandar as atividades em cada um dos espaços culturais.
As atividades percorrerão as Arenas Cariocas Abelardo Barbosa (Guaratiba) e Jovelina Perola Negra (Pavuna); as Areninhas Gilberto Gil (Realengo), Sandra Sá (Santa Cruz) e Hermeto Paschoal (Bangu); as Lonas Culturais Hebert Viana (Maré), Jacob do Bandolim (Pechincha) e Terra (Guadalupe).
“Esperamos todas e todos, com o coração aberto, porque “o palhaço é a menor distância entre duas pessoas”.
Ah que coisa boa de noticiar. Fico imaginando as crianças recebendo o circo em seus territórios. A alegria delas, que seja a nossa também. O projeto é lindo e merece ser celebrado. Quem dera pudéssemos dar em manchete, mas, infelizmente, sabemos bem o que chama a atenção hoje.
Termino com uma citação de Marta Porto, crítica cultural, em seu livro “Imaginação – Reinventando a cultura’ (Ed. Pólen) que, como já falei no post anterior, anda frequentando animadamente a minha cabeceira:
“A motivação de um trabalho cultural sério nunca pode partir de ideias como reduzir violência, mas comunga com uma energia criativa que, por óbvio, não tem origem, classe ou geografia privilegiada para existir, apenas condições e oportunidades de florescer”.
Penso que precisamos é de dar oportunidade a nossos corações e mentes para que essa energia criativa aflore, contamine outro, outro e mais outro.
Amelia Gonzalez é jornalista, foi editora por nove anos do caderno Razão Social do jornal ‘O Globo’ e colunista do Portal G1, também da Globo. Atualmente mantém o Blog Ser Sustentável, onde escreve sobre desenvolvimento sustentável e colabora na Revista Colaborativa Pluriverso e aqui, na revista Entrenós, uma parceria da Casa Monte Alegre e a Pluriverso.