Quem se importa com árvores urbanas não consegue ficar indiferente quando vê troncos que um dia foram árvores frondosas em várias esquinas da cidade. Sou uma dessas pessoas.
Por isso estranhei o anúncio, de dois meses atrás, dando conta de que a cidade do Rio de Janeiro foi considerada, pela organização das Nações Unidas para alimentação e agricultura – FAO – e pela ONG norte-americana Fundação Arbor Day, uma “cidade amiga das árvores”. A notícia não recebeu muita repercussão, possivelmente porque tem sido difícil, nos dias de hoje, ganhar a atenção dos leitores com uma novidade boa.
Mas pode ser também que as pessoas tenham tido uma atitude cética diante do anúncio. Com tantos troncos abandonados, será mesmo que a cidade merece este elogio?
Há muitas perspectivas que podem ser analisadas nesta situação. E, para fazer uma análise sem tendências, precisamos de boas informações.
Tempos atrás ouvi de um ambientalista que árvores urbanas têm um ciclo de vida que deve ser respeitado. Como qualquer outro ser vivo, elas nascem, crescem e morrem. Como estão em locais de grande movimento, sua morte pode causar enormes transtornos e, dependendo do seu tamanho, pode ser até muito perigoso para a vida dos humanos. Depois disso, aprendi a respeitar as tosas e até mesmo parei de interferir no trabalho de equipes que cortam uma árvore. Eles podem estar prestando um serviço à comunidade.
Mas… árvore morta, árvore plantada, certo? Infelizmente, nem sempre. Os troncos espalhados por vários bairros mostram que há uma lacuna de tempo entre o corte e o replantio, e às vezes a árvore que se foi não é nem substituída. Em seu lugar cresce o cimento.
É importante falar mil vezes: árvores urbanas não têm só o efeito estético. Elas servem para reduzir a poluição sonora, do ar, fornecem sombra e moradia para os pássaros, além de alimentos. E, ainda por cima, oferecem sua beleza, seu esplendor, para quem acredita na meditação como possibilidade de fortalecer o sistema imunológico. Ou seja: árvore é tudo de bom, não só na floresta, como também nas cidades.
Porém…
Sim, tem um “porém” que precisa ser destacado.
Não é qualquer árvore que pode ser plantada em ruas da cidade. Tubulações de água e esgoto estourados, calçadas levantadas, problemas na rede elétrica e frutos pesados que podem machucar quando caem são alguns dos problemas que uma árvore plantada num local inadequado pode trazer.
Isso quer dizer que, por mais que a pessoa tenha muito boa vontade, não deve sair plantando árvores perto de casa sem consultar profissionais. E as prefeituras – sobretudo aquelas que recebem selos de garantia, como aconteceu com o Rio de Janeiro – têm obrigação de contratar tais especialistas, pessoas que estudam a biodiversidade.
Pois bem. No site da Prefeitura do Rio há uma informação que faz toda a diferença. É que a cidade não produz ainda suas próprias árvores urbanas: tem que importar de Minas Gerais ou de São Paulo.
Mas, aparentemente, esse quadro vai mudar. No mês passado, foi inaugurado um viveiro de árvores urbanas na Fazenda Modelo, em Pedra de Guaratiba. Segundo informações do site, a ideia é produzir ali dez mil mudas por ano para serem usadas em arborização do município. Foram identificadas áreas, principalmente nas zonas Norte e Oeste, que devem receber a maior parte das mudas.
“Um diferencial do viveiro será o cultivo de mudas de alto padrão, grandes, e que se destacam na paisagem, entre elas pau-brasil, pau-ferro, sibipiruna, escumilha, paineira, ingá, mangueira, oiti, jequitibás, ipês e palmeira-imperial. Além de preservar o meio ambiente, o projeto pode melhorar a saúde da população. Segundo pesquisas, morar em locais arborizados reduz em 36% o risco de desenvolver depressão e doenças cardíacas e do sistema circulatório”, diz a notícia publicada no site.
Ôba! Talvez a iniciativa tenha sido influenciada pelo selo de “amiga das árvores”, dado pela ONU. Se for, valeu. Estamos aqui à espera dos resultados.
Agregando mais informações sobre o tema: o primeiro estudo realizado sobre o número de árvores que o planeta pode suportar foi publicado pela revista científica Science e no site da BBC em 2019. A notícia traz informações que corroboram nossa preocupação com as árvores. Antes de mais nada, calcula-se que o planeta tenha, no total, cerca de três trilhões de árvores. Mas ele precisa de 1,2 trilhão de novas árvores para conter o aquecimento.
“Seguramente podemos afirmar que o reflorestamento é a solução mais poderosa se quisermos alcançar o limite de 1,5 grau [de aquecimento global], disse Thomas Crowther, cientista e ecólogo britânico, à reportagem.
O estudo concluiu que há ainda um total de 1,8 bilhão de hectares de terra no planeta em áreas com baixíssima atividade humana que poderiam ser transformadas em florestas.
Como se vê, soluções existem, e muitas estão mesmo ao alcance dos cidadãos comuns e preocupados. Uma das grandes vantagens de se plantar árvores, segundo estudiosos, é manter viva a relação entre as pessoas. É uma atividade que agrega e faz bem.
Nossa sugestão é olhar em volta para tentar descobrir, no seu bairro, pessoas com quem se juntar para adotar a iniciativa. Aí sim, nosso selo de cidade amiga das árvores será justo. Por enquanto, é só uma promessa.
Neste site há uma lista de árvores que podem ser plantadas nas cidades sem causar problemas.
Amelia Gonzalez é jornalista, foi editora por nove anos do caderno Razão Social do jornal ‘O Globo’ e colunista do Portal G1, também da Globo. Atualmente mantém o Blog Ser Sustentável, onde escreve sobre desenvolvimento sustentável e colabora na Revista Colaborativa Pluriverso e aqui, na revista Entrenós, uma parceria da Casa Monte Alegre e a Pluriverso.