Para além das vacinas
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Muitos infectologistas e pessoas que a outras especialidades ligadas à saúde estão alertando para o fato de que não se deve dar às vacinas a única chave para livrar a humanidade de pandemias. A pandemia causada pelo Corona Vírus serve, isto sim, como um alerta para uma profunda reflexão sobre a necessidade de se rever velhos hábitos para que não se passe, a partir de agora, a viver de pandemias em pandemias. A má notícia é que mudar hábitos, como se sabe, é difícil. A boa notícia é que é possível.

A escritora argentina e jornalista Soledad Barruti divulgou, logo no início da pandemia, no site da Editora Elefante, um artigo ao qual deu o seguinte título: “Nuggets e morcegos: como cozinhamos as pandemias”, em que reflete sobre essa mudança de paradigma. Barruti ouviu especialistas que lhe garantiram que “As pragas não são uma novidade, mas estão avançando: duzentas novas doenças infecciosas zoonóticas surgiram nos últimos trinta anos, e nenhuma é resultado da nossa má sorte”.

Em visita a uma produtora de ovos na Argentina, Barruti conta, em detalhes, a dificuldade de manter as doenças sob controle naquele lugar. E conta que ainda hoje é difícil definir, com exatidão, a origem da gripe espanhola que assolou o mundo há cem anos. Mas há muita chance de terem sido as granjas que começaram a se proliferar no Kansas, nos Estados Unidos, à época.

“As pessoas intensificam a produção de animais e rompendo a distância saudável entre espécies — cada uma com seus micro-organismos específicos — para criar um novo mundo bizarro e cada vez mais perigoso”, escreveu Barruti.

Abaixo, reproduzo uma parte do artigo de Soledad Barruti. Para quem se interessar, fica aqui o endereço onde é possível ler todo o texto: https://elefanteeditora.com.br/nuggets-e-morcegos-como-cozinhamos-as-pandemias/.

“Sabemos que outra pandemia será inevitável. Está chegando. E também sabemos que, quando isso acontecer, não teremos medicamentos, vacinas, profissionais de saúde ou capacidade hospitalar suficientes”, disse Lee Jong-wook, então diretor da Organização Mundial da Saúde, em 2004. O discurso foi proferido quando o planeta tentava se recuperar do susto surgido com a gripe aviária, que eclodiu em Hong Kong em 2003.

O médico alertou para um fato muito difícil de ouvir: que um surto pior poderia acontecer a qualquer momento. Em 2009, por exemplo, quando outro vírus saltou de um porco para se tornar Influenza A que, a partir do México, alcançou o mundo inteiro; ou em 2012, quando a síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers) emergiu dos camelos da Arábia Saudita, infectando pessoas em 27 países.

Não devemos temer os mísseis, mas os vírus”, disse Bill Gates em uma palestra no Ted Talk em 2015, depois que o ebola quebrou os limites corporais de uma espécie de morcego, em 2014, para se converter em um pesadelo para os seres humanos.

É uma emergência”, “Precisamos nos preparar”, “Precisamos controlar os vírus”: os documentos oficiais de várias agências das Nações Unidas, organizações globais como a Fundação Gates e vários governos estão cheios de advertências semelhantes. Mas nada foi feito para impedir a covid-19. Talvez porque em nenhum desses espaços de poder houve intenção de nomear de maneira clara e contundente o principal fator desencadeante dessas doenças: a relação abusiva e predatória que estabelecemos com a natureza, em geral, e com os outros animais, em particular.

Vacas, porcos, galinhas, morcegos, não importa de qual animal estejamos falando. Se não os extinguimos com destruição de seus habitats, os engaiolamos, acumulamos, mutilamos, transportamos, engordamos, medicamos e deformamos para aumentar sua produtividade. Forçamos os limites de seus corpos e anulamos seus instintos como se fossem coisas, por meio de técnicas ensinadas nas universidades, repetidas em conferências empresariais e testadas em laboratórios. Um negócio de bilhões de dólares“.

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