‘Ou isto ou aquilo’
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Antes de mais nada, quero contextualizar: o título deste texto nada tem a ver com o momento político. Até porque, para mim não é uma questão de escolha. Sou a favor da democravia, único regime possível.

Esclarecido este ponto sensível, quero dar duas sugestões de livros que me pousaram às mãos em tempos recentes e podem ser boas leituras para as crianças. Estantes cheias de livros são as melhores amigas, sobretudo em tempos de tantos pensamentos pequenos.

O primeiro livro se chama “Ou isto ou Aquilo”, uma doçura de texto e imaginação que a professora, poeta, escritora, romancista Cecília Meireles nos deixou justamente no ano em que morreu, 1964. Outra coincidência, que também não foi de propósito: naquele ano o país mergulhou numa ditadura militar.

O livro ganhou uma linda roupagem da Editora Global e ilustrações de Odilon Moraes em 1990, na quinta edição.  Foi esta que vi na banquinha da feira e me levou para tempos antigos. “Ou isto ou aquilo” foi meu primeiro livro, cheio de poemas tão doces, alguns tão tristes, mas de uma sensibilidade tão imensa. Cecília Meireles brinca com palavras e situações.

Siga a sugestão do poeta e romancista Walmir Ayala, organizador desta edição, escreve neste post scriptum de 1990: “Leia em voz alta, sinta que está cantando. Estas coisas que hoje estão na boca de todo mundo, como medida de salvação, você pode encontrar neste livro. A paz, o amor, a solidariedade, até a solidão. Tudo é bom e bonito quando a gente acredita e pensa pra cima”.

Então, lá vai o poema que dá nome ao livro:

“  Ou se tem chuva e não se tem sol,

     Ou se tem sol e não se tem chuva!

     Ou se calça a luva e não se põe o anel,

     Ou se põe o anel e não se calça a luva!

      Quem sobe nos ares não fica no chão,

       Quem fica no chão não sobe nos ares.

        É uma grande pena que não se possa

        Estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

        Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,

         Ou compro o doce e gasto o dinheiro

         Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo…

   E vivo escolhendo o dia inteiro!

   Não se se brinco, não sei se estudo,

   Se saio correndo ou fico tranquilo.

    Mas não consegui entender ainda

    Qual é melhor: se é isto ou aquilo”

O outro livro se chama “O museu que caio inventou”, escrito por Simone Bibian com ilustrações de Paula Krank. A  Edições Pinakotheke editou em 2014.

É a história de Caio, que andava prestando atenção nas pedras de tropeçar e de chutar, e também nas enterradas e escondidas. Ia catando e guardando, catando e guardando, e gostava de exibir para os amigos. Foi quando ele percebeu que o que tinha era, na verdade, um museu!

Organize seu museu com a criança que esteja perto de você, seja filho, neto, sobrinho, amigo. E crie, assim, um mundo paralelo, em que seja possível sentir, sonhar, ampliar pensamento. É do que estamos precisando.

Amelia Gonzalez é jornalista, foi editora por nove anos do caderno Razão Social do jornal ‘O Globo’ e colunista do Portal G1, também da Globo. Atualmente mantém o Blog Ser Sustentável, onde escreve sobre desenvolvimento sustentável e colabora na Revista Colaborativa Pluriverso e aqui, na revista Entrenós, uma parceria da Casa Monte Alegre e a Pluriverso.

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