O valor da vida. O valor de sentir
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Estivemos distantes dessa plataforma durante um tempo.
Foi preciso. Para uma reorganização de nossos pensamentos, desejos, reflexões. Foi preciso, também, para percebemos como nos guardar, como nos resguardar nessa era de tantos solavancos.
Queremos consistência, queremos compor.
Assim, aqui estamos nós, de novo, compondo com esse pensamento tão sensível da poetisa Tátia Rangel.
Sua carta, de número 3, é um diálogo com o tempo e dá prazer de ler:
Segue abaixo.

qualquer dia de outono. não importa a data, nem o ano. o que importa também não sei, mas sinto que a janela permanece no mesmo lugar. a paisagem que contempla – muda – aos meus ouvidos. sinto. pelos que morreram sem amar, sem sorrir, sem viver, sem olhar por alguma janela. sinto. pelos que morrem mesmo vivendo. sinto. há uma dureza nas pedras, que quando as toco são suaves. já as nuvens tão leves ao olhar. quando nelas chego, deparo-me com a dureza do imaginar. o abismo da ilusão. penso no calor do sol, lembro do frio do inverno. percebo que estou nas dualidades, tento ir mais além. então, me volto à janela. deixo-me à espreita dos pensamentos. navego pelos sons da rua. algo me toca a pele, é o cheiro da vida. sinto. nesse sentir-outro procuro por onde estou. não há rastros. talvez algumas pistas que devo arriscar. há medo por todos os lados, como conseguir arriscar? se eu morrer sem arriscar? se a morte for a garantia? o que vou contar para as nuvens? como irei confiar na pedra? presa nas dúvidas, o tempo escapa. correndo por ruas que desconheço. tento chamá-lo, mas minha voz sufoca diante da realidade.

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