Ando bem passeadeira, o que é muito bom se tivermos em mente aqueles tempos horríveis de pandemia, quando ir à esquina já era quase um crime. Passamos por ela, nem todos sem sequelas. E acho que acendeu-me o desejo de explorar mais o ambiente cultural da cidade.
Foi assim que, semanas atrás, peguei ônibus, metrô e VLT e fui ao Museu do Amanhã.
Sim, eu já visitei várias vezes aquele Museu. Mas tenho sempre a sensação de que cada vez é a primeira vez. Uma informação que eu nunca tinha ouvido, um pequeno e valioso objeto que lá sempre esteve e eu negligenciara em outras visitas.
Tem ainda as companhias, que sempre dão toques de riqueza diferentes às visitas. Fui com amigos, é claro. Aqui eu trago a lucidez de Edward Glaeser, economista norte-americano especializado em cidades. No livro “Os centros urbanos – a maior invenção da humanidade” (Ed. Campus), escrito em 2011, ele nos ensina que as cidades são ricas tanto mais pessoas abrigarem, já que os humanos, em parceria, tornam-se muito mais criativos.
Reavivei a lembrança do livro de Glaeser – “Os centros urbanos – A maior invenção da humanidade” (Ed. Campus, 2011) – justamente depois de “Nós”, o fim do percurso da Exposição Principal do Museu do Amanhã. Nosso pequeno grupo de amigos, ao som do burburinho feito por uma criançada esperta de uma das muitas escolas que visitam o Museu, parou em frente ao Churinga.
Um simples pedaço de madeira magro e comprido, o Churinga é uma ferramenta utilizada pelos aborígenes australianos para associar o passado ao futuro. Ele representa a própria continuidade daquele povo e sua cultura. E está ali para suscitar reflexões sobre o futuro que queremos, já que “cada um de nós faz o seu Amanhã e, juntos, fazemos o nosso, o Amanhã que queremos”, diz o texto na peça que apresenta o Churinga aos visitantes. (Na foto, o Churinga e nosso futuro).
E é a única peça museológica existente no Museu do Amanhã. E quantas perguntas somos capazes de formular a partir daquele pequeno pedaço de madeira.
Já dizia meu velho pai que não se dorme um dia sem ter aprendido algo novo. Ali estava eu, com as minhas caraminholas em polvorosa, refletindo e aprendendo muita coisa.
A conversa entre nós fluía como fluem os pensamentos derivados de bons propósitos. E de pessoas ricas em ideias.
Plenamente alimentados os pensamentos, a hora do almoço chegava e nos fazia querer nutrir também o corpo.
Fomos degustar uma refeição paraense da mais alta qualidade na Casa do Saulo, ali no espaço do Museu. Nossa conversa prosseguiu, animadamente cercada por iguarias como arroz com jambu, banana da terra assada, mapará grelhado, farofa de mandioca, humus de feijão… Ainda agora me vem água na boca ao lembrar dos sabores. Não pedi sobremesa porque já estava plenamente satisfeita, mas cá estou eu aqui a pensar no que perdi…
Hora de partir, para diminuir um pouco a minha pegada de carbono, que num dos dispositivos do Museu do Amanhã vi que está alta, peguei o excelente VLT, de novo o Metrô e de novo o táxi.
É um passeio imperdível, que aparentemente os criocas já estão dando o valor devido: só nesses quatro meses de 2023, 300 mil pessoas visitaram o Museu do Amanhã. Pretendo voltar mais e mais vezes, porque ainda me sobraram caraminholas…
Recomendo!