No universo das tendências, não sei se posso chamar assim o fato de, recentemente, chegarem a mim escritos e outras formas de comunicação, trazendo para o campo das emoções as muitas sequelas que nosso rastro está deixando no planeta. Nós, os humanos, seres mais predadores, única espécie capaz de destruir seu próprio habitat. Nós estamos diante de um tremendo, do maior desafio de todos os tempos: os efeitos causados pelas mudanças do clima.
E o que nós, cidadãos comuns, podemos fazer?
Há quem aposte no acúmulo de dados e informações. Tantas toneladas de emissões de carbono a mais do que nos tempos da Revolução Industrial e muito mais do que somos capazes de suportar; tantos metros a mais de aumento do nível do mar; tantas espécies em risco e já extintas. Uma numeralha que pode servir, para nós, não cientistas, apenas como prova de que, sim, temos sido insensíveis ao meio ambiente. Resta-nos o debate, que pode se tornar em retórica inútil, e uma indefectível postura dos fracassados diante de tanta tragédia.
Há os militantes, guerreiros que se apegam à certeza de que ainda é possível mudar, e que podemos fazer nossa parte com pequenas atitudes cotidianas. Mas há também aqueles que, acomodados, aceitam o fato de que está tudo muito ruim, mas ainda tem espaço para piorar. São essas pessoas que estarão sempre por perto para lembrar aos militantes que de nada adianta diminuir o tempo de banho se a indústria está aí gastando água a rodo.
Mas eu falava em nova tendência (para usar a expressão da vez), que pode agregar a esses perfis uma alternativa: a emoção.
Estou me referindo, por exemplo, à coleção de livros do neurobiologista vegetal Stefano Mancuso, que nos põe em contato com a alma das plantas e deixa os leitores mais sensíveis apaixonados por elas. Falo também sobre o recente livro do colombiano Efrén Giraldo, ‘Sumário das plantas oficiosas”, que faz um relato, além de informativo, bonito, bordando emoção entre as plantas que ocuparam sua vida até hoje. É um livro a ser degustado, como eu disse aqui.
Giraldo me levou a conhecer a linda fábula “O Homem que plantava árvores”, escrita em 1953 pelo francês Jean Giono, mas publicada apenas nos anos 80. Um livro bonito e muito emocionante, que deixa nos leitores um desejo quase irrefreável de sair por aí plantando mudinhas.
Na mesma linha, fui convidada para o pré-lançamento para convidados da exposição “Sentir mundo – uma jornada imersiva”, no Museu do Amanhã, que será aberta ao público no dia 30. Com perdão pela extensa introdução, que achei necessária para localizar o leitor, é sobre esta exposição, um recorte do projeto idealizado e desenvolvido pelo Sensory Odyssey Studio, em coprodução com o Muséum National d’Histoire Naturelle, que quero escrever.
A proposta da mostra, criada em 2016 pelo francês Gwenael Allan, Ceo do Sensory Odissey Studio, é justamente “provocar uma energia positiva, que as pessoas saiam com vontade de agir, sentindo-se parte do meio ambiente’.
“Minha motivação, ao pensar a exposição, foi atrair as pessoas que não visitam os Museus de História Natural em todo o mundo. A ideia foi fazer uma produção que ajude a criar um laço afetivo entre o homem e a natureza. Que as pessoas saiam daqui não com culpa, mas com simpatia, com uma sensação de bem estar. As crianças, é claro, são nosso publico alvo, mas queremos atrair os adultos também”, disse-me ele, numa rápida conversa depois de eu ter visto a exposição.
A criação de Gwenael Allan, de fato, consegue criar empatia. São três ambientes distintos, mas que dialogam. Logo no início, depois de passar por um corredor escuro que mais parece um trem fantasma, o visitante se encontra no dossel da floresta. Através de projeções em alta definição, vai se tendo a sensação de estar em cima de uma árvore e vir descendo nos galhos até o chão.
A segunda área temática nos leva por dentro do solo. Também com projeções, conseguidas com câmeras de altíssima definição – segundo Gwenael, capazes de obter mil a duas mil imagens por segundo – e microfones altamente sensíveis, o visitante é apresentado a um mundo com seres sobre os quais pouco pensamos. Roedores, fungos, formigas. Acompanha-se o momento em que um cogumelo floresce, até seu empalidecimento.
Meu canto preferido foi o último, chamado de dança dos insetos. Se o visitante tiver sorte de ir num dia tranquilo – a exposição vai até junho, tem tempo – e conseguir se sentar para acompanhar as imagens, vai sair extasiado. E sim, é possível criar empatia com aqueles insetos, acompanhar seu movimento de polinização. Trago na mente o momento em que um Louva-a-deus captura uma joaninha e a come como se estivesse degustando um saboroso sanduíche. (Vejam a foto).
Como a proposta é ser uma exposição multissensorial, em todo o trajeto o visitante vai sentir odores variados: grama molhada, floral, musgo. Aqui a ideia, segundo Amarilis Macedo, coordenadora de exposições e conteúdos do Museu do Amanhã, foi “mostrar que os aromas fazem parte da comunicação entre os insetos e as plantas”.
“É para ativar nossos sentidos e chamar atenção para a capacidade sensorial da natureza”, disse-me Amarilis.
A rigor, tais saberes ambientais deveriam chegar aos nossos jovens e crianças de maneira natural, pura. Mesmo com toda a simpatia que se possa ter aos bichinhos voadores com os quais passamos algum tempo na sala escura, acaba sendo mesmo através de uma tela que fazemos esse contato. Mas… infinitas vezes melhor isso do que expor-lhes imagens de bichos enjaulados, mesmo nesses novos espaços que fingem ser ‘mais humanos’ mas que, no fim e ao cabo, são Zoológicos.
Sendo assim, minha sugestão é: aproveitem esse finalzinho de férias e levem seus jovens e crianças a sentirem o mundo nessa exposição. Na saída, vale parar para ver as caixas entomológicas que o Museu Nacional preparou, resultado de uma boa parceria com a mostra, que já esteve na França e em Singapura. E vale ainda ler em conjunto alguns dos textos selecionados para fazerem parte do painel informativo da exposição.
Aqui vai o meu texto preferido desse conjunto: “Os cheiros atraem os insetos. Mas os aparatos que as moscas têm para senti-los são diferentes dos aparatos das abelhas”.
E viva a diversidade!
Amelia Gonzalez é jornalista, foi editora por nove anos do caderno Razão Social do jornal ‘O Globo’ e colunista do Portal G1, também da Globo. Atualmente mantém o Blog Ser Sustentável, onde escreve sobre desenvolvimento sustentável e colabora na Revista Colaborativa Pluriverso e aqui, na revista Entrenós, uma parceria da Casa Monte Alegre e a Pluriverso.