A pandemia mudou muita coisa na rotina de todos nós. Sobretudo de quem tem filhos em idade escolar. Não é fácil mantê-los em casa; não é fácil convencê-los a se habituar com as aulas por computador; não é fácil estar ao lado deles e perceber como faz falta o convívio com os amigos de sua idade. Dá uma tremenda sensação de impotência e fica, quase sempre, a dúvida: não seria melhor que eles estivessem na escola?
Essa preocupação tem sido também de pesquisadores do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), agência das Nações Unidas que busca promover a defesa dos direitos das crianças. Eles decidiram fazer um estudo para analisar o cotidiano das famílias que têm crianças e jovens em casa e desvendaram, justamente, essa hesitação. Enquanto 9% dos entrevistados declararam que as escolas de crianças e adolescentes residentes no domicílio reabriu, somente 3% declararam que algum deles voltou a frequentar a escola. Da mesma forma, apenas 15% dos entrevistados disseram que as crianças e os adolescentes voltarão às salas de aulas assim que a escola reabrir.
Medo e insegurança com a saúde dos filhos, o que é perfeitamente explicado. E, ao mesmo tempo, muito preocupante, retrato de nossa era. Num artigo bastante delicado sobre o assunto pandemia, chamado “Gaia e Ctonia” o filósofo italiano Giorgio Agamben traduz esse sentimento numa frase que que atordoa: “Para salvar sua vida de uma suposta e confusa ameaça, os homens renunciam a tudo que faz valer a pena viver”.
A pesquisa do Unicef se chama Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes, e foi lançada no dia 11 de dezembro do ano passado. O estudo analisou outros fatores relativos às famílias com crianças e adolescentes, como a renda, por exemplo. E concluiu que a renda das famílias com crianças e adolescentes caiu, que aumentou o número de famílias que não conseguiram se alimentar adequadamente porque a comida acabou e não havia dinheiro para comprar mais e que menos estudantes tiveram acesso a atividades escolares.
O longo tempo de fechamento das escolas é preocupante, dizem os pesquisadores. O isolamento social tem impactado profundamente não só o aprendizado, mas a saúde mental das crianças e dos jovens. O humano é gregário, como sabemos.
“A preocupação com o direito à educação aumenta uma vez que a proporção dos residentes com crianças ou adolescentes que continuam com atividades escolares em casa e receberam atividades nos cinco dias da semana anterior à pesquisa diminuiu de 63% em julho para 52% em novembro. Além disso, 13% das famílias responderam que crianças e adolescentes não haviam recebido atividades escolares na semana anterior à pesquisa. Isso corresponde a sete milhões de meninas e meninos”, diz o estudo, que foi realizado com 1.516 entrevistas em todo o Brasil.
Vinte e sete por cento dos respondentes relataram que adolescentes no domicílio apresentaram insônia ou excesso de sono. Além disso, 29% relataram que os adolescentes tiveram alteração no apetite e 28% disseram que os adolescentes tiveram diminuição do interesse em atividades rotineiras. No total, 54% das famílias relataram que algum adolescente do domicílio apresentou algum sintoma relacionado à saúde mental.
“O Unicef pede urgência aos novos governantes municipais para a reabertura de escolas com segurança e a implementação de políticas para garantir o direito à educação, olhando especialmente para as crianças e os adolescentes mais vulneráveis, que foram mais duramente impactados pelos efeitos da pandemia no País”, afirmou Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil, ao site da organização.
Como sabemos, ainda está confuso o cenário, aqui no Brasil, com relação à vacina contra a Covid, considerada por muitos a salvação da lavoura, o passaporte para o “retorno ao normal”. E é bom lembrar que, muito possivelmente, esse retorno não seja tão exato, tampouco o normal deverá ser o mesmo. Sendo assim, é cada vez mais importante que os pais se informem sobre outras formas de manter suas crianças, e a si próprios, com saúde.
