COP 30 em Belém: uma lufada de boas energias
cop27

É certo que as reuniões globais de clima não têm merecido muita atenção da maioria. Lamentável, porque a despeito de um certo tom de retórica inútil, tais encontros são necessários para pôr o assunto em evidência, pelo menos por um período. E seria muito bom se mais pessoas se envolvessem. Afinal, é do nosso meio ambiente comum que estamos falando. E, quanto mais pessoas estiverem envolvidas, mais forças se terá para cobrar políticas públicas que possam brecar o avanço da temperatura global.

Sendo assim, ao menos durante o tempo em que as conferências estão acontecendo, o meio ambiente desce dos meios acadêmicos e  se populariza um pouco mais. A meta é que não se torne vulgar, é claro. Por isso é de se comemorar que Belém, um dos estados que faz fronteira com a Floresta Amazônica, estrela do encontro, seja sede da COP daqui a três anos.

Mas, entende-se a falta de empatia com o públilco em geral. As resoluções tomadas nas Conferências do Clima, às vezes, caem naquele nicho das decisões que nunca saem do papel. Ou, para falar a linguagem mais recente, que não saem dos arquivos em word, das planilhas de Excell. Mas alguma coisa é feita, e alguém decide mudar algum hábito. Um mais um, pode ser igual a mil, já diria Amelie Poulain.

Foi com este espírito que eu, que estudo o tema há duas décadas, recebi a notícia. Registro importante: Lula foi muito esperto quando fez o apelo à ONU, durante a COP 27 no Egito, argumentando que a Amazônia precisa ser conhecida por quem tanto fala a respeito dela.

A região deve se preparar a partir de agora, portanto. Embora não seja uma Copa do Mundo, é um evento mundial que traz muita gente de todos os cantos do planeta.

Dos acordos e tratados que tiveram palco em COP, vale lembrar um, talvez o mais popular: foi numa Conferência das Partes, em 2015, em Paris, que se conseguiu assinar o Acordo Global para baixar emissões de carbono, cravando um prazo até 2030. Ficou decidido então, que a humanidade faria tudo para conter o aquecimento global “bem abaixo dos 2°C em comparação aos níveis pré-industriais”.

Mas, infelizmente, um estudo lançado no mês passado pela Organização Mundial Meteorológica dá conta de que as temperaturas globais devem bater taxas recordes nos próximos anos. Se em 2022 a média de temperatura já foi de 1,15°C acima da era pré-industrial, está sendo esperado que no período de 2023 até 2027, suba para 1,5°C. Emissões de carbono e fenômeno El Niño são os responsáveis, dizem os pesquisadores.

Sendo assim, como eu disse antes, é fato que as Conferências do Clima não têm servido como catalisadoras de iniciativas bem-sucedidas que levem a mudanças de hábito.

Mas, a favor delas, no atual ambiente geopolítico tão polarizado que vivemos,  devo dizer que tais encontros são eivados de boas intenções. Um espaço “do bem”.

Ali não se fala em ataques, não se cobra envio de armas. Pelo contrário: quem sobe ao púlpito da reunião costuma traçar um perfil de ruínas e convocar a humanidade para  trabalhar, todos juntos, em prol do que pode ser a salvação. Fora um ou outro país, a maioria diz sim à convocação. As COPs são, em geral, um espaço de consenso, não de arbitrariedades.

Isso basta? Não, é claro.

Mas será ótimo termos uma lufada de boas energias girando sobre nosso território.  Estamos mesmo precisando.

Amelia Gonzalez é jornalista, foi editora por nove anos do caderno Razão Social do jornal ‘O Globo’ e colunista do Portal G1, também da Globo. Atualmente mantém o Blog Ser Sustentável, onde escreve sobre desenvolvimento sustentável e colabora na Revista Colaborativa Pluriverso e aqui, na revista Entrenós, uma parceria da Casa Monte Alegre e a Pluriverso.

Compartilhe entre outros

[addthis tool="addthis_inline_share_toolbox"]