Convite à folia, à saúde, a viver!

Faltam dois dias para o início do carnaval.

A folia nas ruas de Santa Teresa provocada pelo bloco da Casa Monte Alegre num mundo sem pandemia

Mas, nas ruas, não se vê gente fantasiada. Amanhã seria o dia de o prefeito entregar, oficialmente, a chave da cidade para o Rei Momo. E nós assistiríamos à cena, talvez com críticas, talvez só com… alegria. Muitos de nós estaríamos nos preparando para assistir à festa das escolas de samba no Sambódromo, outros já estaríamos pendurados no telefone, com amigos, a combinar encontros. Aqueles que gostam de aglomeração, buscariam os blocos mais badalados. Outros, não.

Mas haveria escolhas. E entre as opções, estaria a de pegar uma estrada e se esconder numa casinha na Serra. Talvez muitos estejam se preparando para fazer isto agora, amanhã. Mas, de certa forma, não será uma escolha, e sim a única possibilidade.

Porque aqui, no Rio de Janeiro, não vai ter carnaval. Como aconteceu no ano passado, a Prefeitura preferiu não arriscar. O coronavírus ainda está circulando, ainda machuca muita gente, sobretudo quem se nega a tomar vacina.  Os hospitais não dariam conta de atender esse povo, mais aqueles que, na festa de Momo, acabam extrapolando e precisando de cuidados médicos.

Fato é que a folia está adiada para abril, e vamos torcer para que o feriado de Tiradentes nos encontre, pelo menos, livres do risco de contrair doença grave. Enquanto isso, lidamos com outros riscos. O risco, por exemplo, de começarem uma terceira guerra mundial. Como se já não nos bastasse tanta tragédia, hoje as telas de TV nos deixam aturdidos diante de mais uma manifestação absurda daqueles que chamamos de líderes.

É preciso respirar para não adoecer.

Este texto é um convite, portanto, a aproveitar esses dias e praticar uma alegria irrestrita, desobediente, de dentro para fora. A sair bailando, mesmo sem fantasia, para comemorar o fato de estarmos vivos. A cair na folia, uma folia singular.

E para esse grande bloco, urbano ou rural, tragam as crianças e aproveitem aquilo que elas nos oferecem de mais encantador: a simplicidade. Ofereçam uma trégua para seus olhos e se afastem das telas, seja de televisão, de celular, ou de computador. O convite é para viver num delicioso mundo do faz de conta: façam voltar para trás a máquina do tempo. Vamos voltar a viver numa época em que tudo exigia muito mais esforço, mas um esforço bom.

Sem as telas, entreguem-se ao prazer de brincar. Simplesmente brincar. E dormir quando der vontade, e comer só quando o corpo quiser, o que o corpo tiver vontade. Ah, as crianças vão adorar isso. Aliás, para que nosso baile urbano ou rural fique mais animado, junte muitas crianças. Sem medo da algazarra. No início pode incomodar, porque já quase nos acostumamos aos sons que conseguimos controlar em teclas. Ah, mas se der espaço às crianças, o som que elas poderão produzir em excesso vai se espalhar. E, assim, deixa de incomodar.

Crie muito: uma leitura, bonecos de pano, um teatro, faça um bolo, brigadeiros, apenas conte histórias ou, simplesmente, deixe que as crianças brinquem e observe. Apenas acompanhe e, neste momento, tente recuperar, dentro de si, a criança que um dia você foi. Que todos nós, adultos, um dia fomos. E que, por conjecturas amargas, cada dia mais amargas, do nosso dia a dia, vamos deixando para trás na memória.

Que este carnaval estapafúrdio, com data marcada para acontecer só daqui a dois meses, sirva para trazer alegria, brincadeira, jogos, prazer, contato com a natureza. Se puder, mesmo que more na cidade e não consiga viajar para o campo, encontre um jeito de estar perto de árvores, de pássaros, de bichos. E leve as crianças. No Japão existe uma terapia chamada Shinrin-Yoku, traduzido para o português como Banho de Floresta, que é exatamente isso: aproveitar o verde, as plantas, o som dos bichos, para relaxar. E ficar em contato, dando atenção especial ao ambiente ao redor.

Deixe de lado a guerra, o vírus, as telas, a tensão, o receio. Abrace com toda a energia a vida simples, que se apresenta o tempo todo à nossa frente, e que a gente às vezes se esquece do enorme valor que ela tem.

E boa folia para todos nós.

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