Cartas ao vento
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Essa é primeira correspondência da série “Cartas ao Vento” que acontece durante a quarentena como uma forma calorosa de despertar nossa sensibilidade. Por Tátia Rangel

do lado de cá, fechada em algumas paredes, talvez pouco mais que quatro, a sensação é que se tornam muitas camadas de concreto que não impedem invisíveis que atormentam a calma, as mãos, o contato. busco alternativas de sobrevivência, mas a proximidade com a finitude enche de alegria esse instante. possíveis. uma convocação para viver o agora. por ironia, sem toque, sem extravagâncias, sem muitas coisas que por hábito considero boas, que na pele considero vida. estou viva.

considerando um encontro, como um tempo-espaço , algo acontece, nada acontece. existe. persiste. em silêncios esparsos. ruído atormenta os ouvidos, balbucio do vento, essa linguagem que temo traduzir deixando tocar a pele como encontros por vir. inexatidão das bordas que separam, inexatidão das escolhas por esse segundo. seria um vendaval de ideias que soltas dançam, performaticamente deformam a coreografia, o que era sabido como ‘de sempre’ escorre por uma fresta – gemidos de ventos-livres que cavam buracos que o façam ecoar escapando ao sentido.

sem compromisso com o entendimento, do lado de lá, janelas se abrem ao escuro que se faz dia, contemplam o movimento que em ondas se chama vazio , criam possíveis. impasses. a violência anuncia impotência diante do invisível. estou viva.


abril/2020.

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