Brincar é inventar mundos
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Reflexões sobre a experiência de um ano no chão da escola e na rua com as crianças da Monte Alegre. Uma festa que convida a brincar, a estar junto, olhando, cuidando, curtindo uns aos outros nas possibilidades de cada um.

Por Equipe A Monte Alegre

Um coletivo feito de muitos: histórias, bambolês, cordas, amarelinha, ciência, universo, experiências, ritmo, tambor, danças, canto, degustação sensorial, jiló, sementes, nabo, cheiros, texturas, lambe-lambe, imaginação, desenho, técnicas, relação, contato, batucada, percussão, bebidinhas, comidinhas, conversas, emoções, alegrias, encontros, rodas… Dessa forma a Casa Monte Alegre Educação Infantil abriu as portas e foi para a rua com as crianças e suas famílias, dando asas ao movimento, as curiosidades e interesses das crianças.

Cantigas de rodas abraça o berçário e agita seus pezinhos que acabaram de ficar de pé no mundo! Com as cantigas eles sorriem, tocam os instrumentos, dançam, olham… e vão juntos curtindo o momento. Lobo Mau, melhor amigo do Grupo dos Gatos! Quantas emoções, medos, coragem e a alegria em brincar com esse personagem tão presente no imaginário das crianças. Juntos vivemos uma história de esconder do lobo, fugir e dar comidinhas gostosas para esse amigo tão querido.

Conhecer o corpo humano e chegar na Boneca de Lata com gestos, brincadeiras e domínio do corpo. Grupo De Baixo dançou e se apaixonou por essa boneca danada que cai, machuca uma parte do corpo e continua a brincadeira.

De onde vem o alimento? Grupo dos Dinossauros com essa pergunta passou pelo supermercado e chegou na terra. Mãe terra com sua força e presença alimentou o grupo com música e dança. Um encontro lindo entre as crianças e os alimentos.

Bichos! As curiosidades com o cavalo fez o Grupo dos Peixes viajarem pelos bichos e descobrirem um mundo riquíssimo de cores e possibilidades corporais. Transformar os bichos com o corpo: elefante, girafa, cobra… E Voar nos tecidos do circo, percebendo o próprio corpo, a força, o equilíbrio , compondo com as velocidades e o espaço ao redor. Uma lindeza feita com consciência e expressão corporal.

Chegamos na África! Grupo dos Insetos pesquisaram esse continente e descobriram uma dança que crianças-guerreiras faziam: maculelê! Dança, encontro, olho no olho, brincadeira entre os pares e no final técnica e beleza, onde em duplas o grupo explora o trapézio, equipamento circense que muito os interessa e marca um crescimento, um domínio de si, do espaço, misturado com segurança e expressão corporal! Tudo isso aconteceu no Teatro de Anônimo que acolheu nossa forma e abriu suas portas para receber as crianças com suas famílias! Agradecemos a cada um que viveu um pouco desse dia conosco, pois como bem disse Raul Seixas… 

Sonho que se sonha só É só um sonho que se sonha só Mas sonho que se sonha junto é realidade

Nossa escola é feita de sonhos que sempre tentamos sonhar juntos com muitos de nós e assim inventamos uma realidade possível para cada um e para muitos de nós! Nos dias atuais, mas do que nunca se faz urgente invertamos dias possíveis e agradecermos aos nossos parceiros. A vida está dura demais! Vivemos tempos onde somos bombardeados por um sem fim de informações. E o que fazemos com tudo isso? Informação não traz sabedoria?! Estamos cada vez mais inábeis para frustrações mínimas do dia a dia. A informação não é experiência. E mais, a informação não deixa lugar para a experiência, ela é quase o contrário da experiência, quase uma antiexperiência. Por isso a ênfase contemporânea na informação, em estar informados, e toda a retórica destinada a constituirmos como sujeitos informantes e informados; a informação não faz outra coisa que cancelar nossas possibilidades de experiência. O sujeito da informação sabe muitas coisas, passa seu tempo buscando informação, o que mais o preocupa é não ter bastante informação; cada vez sabe mais, cada vez está melhor informado, porém, com essa obsessão pela informação e pelo saber (mas saber não no sentido de “sabedoria”, mas no sentido de “estar informado”), o que consegue é que nada lhe aconteça. (Larrosa, Jorge. 2002)

Tempos de intolerâncias e birras, brigas, limites bem estreitos. Como conectar com a emoção? Reconhecer o que se passa em si? Viver o instante despretensioso ao lado do seu (a) filho(a), amigo, conhecido… Alguém que te toca, que diz algo que faz sentir…, como? Como estar junto? Próximo? Distante? Como podemos escutar a pausa do retrato, a voz da intuição?(Lenine) 

Em nossa prática pedagógica optamos pelas seguintes ferramentas de relação e contato: corpo e arte. Por isso inventamos dias com música, dança, literatura, circo, psicomotricidade, teatro, culinária, ciência, percussão, capoeira, pesquisas, interesses dos grupos, expressões das crianças e adultos. Com essas ferramentas afetamos as pessoas. No ambiente múltiplo há alguma coisa que acessará um de nós! O universo de cada um se amplia, ganha forma, expressão, conteúdos próprios. Nessa lógica, Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua própria produção ou sua construção. (Paulo Freire)

Ficamos radiantes ao ver nossos bebês se deslocando firmes, seguros, ocupando os espaços e expressando suas vontades, seja subir escadas, subir no banco e olhar o horizonte da rua, o telhado da escola… Nossa que experiência! Eles sobem com medo, cuidado e olham para trás, buscando encontrar um olhar que diga sim! Sim! Você consegue! Sim! Tem mais coisas que nossos olhos podem alcançar, mas o risco se faz presente! Ficamos radiantes com as conquistas de cada um! 

Essa emoção esfuziante que toma a gente em cheio é efeito de um trabalho pedagógico que compreende que ensinar exige respeito aos saberes dos educandos; criticidade; pesquisa; estética e ética; ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação; exige reflexão crítica sobre a prática; (Paulo Freire) Brincar é inventar mundos! Foi um convite de toda escola para as famílias experienciarem um pouco do cotidiano das crianças. Uma possibilidade de conhecerem mais nossa forma de ser e produzir saberes — na experiência. Estamos ali todos ex-pos-tos a viver alguma coisa. A segunda nota sobre o saber da experiência pretende evitar a confusão de experiência com experimento ou, se se quiser, limpar a palavra experiência de suas contaminações empíricas e experimentais, de suas conotações metodológicas e metodologizantes.(…) Se o experimento é preditível e previsível, a experiência tem sempre uma dimensão de incerteza que não pode ser reduzida. Além disso, posto que não se pode antecipar o resultado, a experiência não é o caminho até um objetivo previsto, até uma meta que se conhece de antemão, mas é uma abertura para o desconhecido, para o que não se pode antecipar nem “pré-ver” nem “pré-dizer”.

Agradecemos mais uma vez a todos que fazem essa escola inventar mundos diariamente: equipe, crianças e pais. Se você viveu alguma experiência com essa leitura e deseje compartilhar conosco… Estamos aqui. Escreva!


agosto de 2019

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