Xiye Bastida tem 19 anos. Nasceu na cidade mexicana de San Pedro Tultepec e pertence ao povo indígena Otomi-Tolteca, um dos mais antigos do mundo. Hoje mora em Nova York, para onde precisou migrar depois que uma forte inundação arrasou sua cidade, em 2015. Bastida tornou-se uma ativista ambiental quando foi informada, por cientistas, que a tragédia que aconteceu em San Pedro, e que obrigou toda a sua família a abandonar suas raízes, é culpa do aquecimento global. E que, se não houver uma tremenda mudança na forma como o homem lida com o meio ambiente, no modo como produz e consome, a tendência é acontecer eventos extremos cada vez mais severos.

Xiye esteve ontem na Conferência sobre o Clima convocada por Joe Biden, presidente dos Estados Unidos. Foi anunciada pelo secretário de estado Anthony Blinken, que contou uma parte da saga da família da jovem para fugir e encontrar um pouso. Blinken lembrou que a nação mais rica do mundo também já foi afetada por eventos extremos, como o furacão Sandy, em 2012. Para deixar sua mensagem aos líderes mundiais, Xiye teve os mesmos seis minutos que os 40 chefes de estado que foram convidados para a reunião.
A jovem ativista fez um discurso crítico. Lembrou que, em sua maioria, estavam naquela Conferência líderes de países ricos do Hemisfério Norte, e denunciou a ausência de pessoas de comunidades pobres, aquelas que são, verdadeiramente, alvo dos eventos extremos. Alertou para o fato de que o mercado “verde” pode funcionar com o mesmo modelo do mercado tradicional. E que, por conta disso, ali poderiam estar sendo apontadas soluções orientadas por uma ordem econômica global também predadora.
“Sabemos quais são as soluções. Temos, apenas, que implementá-las”, disse Xyie. A jovem indígena estava ali também representando o movimento “Fridays for Future”, alavancado pela jovem sueca Greta Thunberg, também ativista, que já mobilizou centenas de milhares de jovens mundo afora na luta contra a crise climática.
Foi muito bom ouvir o que Xiye tinha para dizer. Busquei, em suas redes sociais, parte de outros discursos, e vi que ela se preocupa com tudo o que envolve o ecodesenvolvimento. A frase que elenquei para título desse artigo é dela:
“Água não é recurso, é elemento sagrado”, faz parte da sabedoria indígena da qual ela descende, e é uma realidade também de nossa humanidade ocidental. Mas parece que a gente se esquece disso.
Foi bom, também, poder recordar outros jovens levados para Conferências globais sobre o Clima nos anos passados, possivelmente com o objetivo de tornar mais críveis, sensíveis e, na medida do possível, mais concretos, tais encontros. A primeira aparição semelhante foi em 1992, quando o Rio de Janeiro sediou a Eco-92. Naquela reunião, a jovem Severn Suzuki, então com 12 anos, conseguiu a atenção dos líderes reunidos ali com uma mensagem, à época, bastante apocalíptica. Mas que, infelizmente, hoje se torna usual.
“Estou aqui para falar por todas as gerações que virão. Estou aqui para falar – falar em nome das crianças famintas em todo o mundo cujos gritos não são ouvidos. Estou aqui para falar pelos incontáveis animais que estão morrendo neste planeta, porque eles não têm para onde ir. Estou com medo de sair ao sol agora, por causa dos buracos em nosso ozônio. Tenho medo de respirar o ar, porque não sei quais são os produtos químicos nele”, disse a menina Suzuki, hoje ambientalista, mãe de dois filhos.
Esta é a maior preocupação: o tempo passa, as cobranças se alternam apenas de intensidade (à exceção do buraco na camada de ozônio, cujo tema saiu da urgência com a redução nas emissões de gases CFCs). Greta Thunberg lançou ontem, no Dia da Terra e primeiro dia da Conferência do Clima, um vídeo com mensagens aos líderes.
No vídeo, que pode ser visto nas redes sociais, a jovem sueca não poupa críticas aos discursos e promessas dos participantes da Conferência, “feitas numa escala fantasiosa”. E se pergunta: “O que nós precisamos continuar trapaceando para fingir que essas metas estão alinhadas com o que é necessário fazer, de verdade, a favor do clima?”.
Boa pergunta, Greta. Vou lhe dar um subsídio a mais para seu caldeirão de críticas: no dia seguinte ao discurso cheio de promessas que fez na Conferência, o presidente Jair Bolsonaro usou a caneta para cortar recursos do setor do governo que lida com as mudanças climáticas. E a vida segue.