#adolescentes. Como é bom e fluido deixar o tempo passar

Hoje pela manhã, fim da caminhada, encosto num daqueles pequenos centros com equipamentos de ginástica ao ar livre para fazer alongamento. Chegam adolescentes, vários, saindo da escola religiosa ou driblando a aula, sei lá. Pus-me a ouvir os diálogos.Entre jovens, as palavras pulam de galho em galho como macaquinhos. Os pensamentos acompanham a energia do corpo. O grupo, que era grande, foi se desfazendo, ficaram três.

 Foquei na conversa entre uma menina bonita de cabelos não alisados; um menino bonito de cabelos compridos e bem desarrumados; um menino bonito cheinho de corpo.

A menina, sentada numa espécie de balanço, olhava quieta o falatório dos dois.  Até que o moço bonito de cabelos desgrenhados salta da conversa com o amigo e  pergunta o que ela tem.

“Minha mãe está com depressão. Minha mãe e minha tia”.

“Sabe que eu nunca conheci ninguém com depressão?”, pergunta o menino bonito cheinho de corpo.

“Não tem cura”, vaticina, dramática, a jovem de cabelos encaracolados.

“Como assim, não tem cura?”

“Não tem. Tem que ter acompanhamento”.

“O que é acompanhamento?”, pergunta o jovem dos cabelos desgrenhados, que o tempo todo ficou calado, ouvindo seriamente a informação da amiga. Nesse momento, vale a pena registrar, percebo mais do que curiosidade pela saúde mental da mãe e da tia da jovem dos cabelos de caracóis. Entre os dois havia uma chama.

A menina ia responder, mas o cheinho de corpo já intercepta, com uma lógica de dar inveja:

“Se não tivesse cura, todo mundo se matava”.

E, tentando esticar a perna num dos aparelhos, muda de assunto:

“Pô! Sou todo encurtado. Daqui a pouco vai fisioterapeuta lá em casa. Se não der resultado o tratamento, vou ter que botar aquele negócio de ferro no pescoço, já pensou?”

Os três riem. Olho para o jovem, que se abaixa tranquilamente para catar uns tostões na mochila e comprar um sorvete. Encurtada sou eu, amigo…, penso.

A jovem se levanta, vai se despedindo, lançando um olhar 43 (quem não se lembra da música vai ao Google, vale a pena), meio de lado, indo embora, mas… pára, dá dois passos atrás e uns tapinhas carinhosos no amigo. O moço corresponde (ahhhh… esta dança, conhecemos bem), também dá tapinhas. Ela sai e ele diz:

“Viu? Bati por último”.

#adolescentesfeelings

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