A história do futuro contada por uma galinha
Kigalinha3

Quer saber o que vai acontecer no futuro num mundo cada vez mais estressado pelas mudanças climáticas? Mais do que isso: quer testar um meio quase infalível de conseguir a atenção das crianças para o tema? Então chame a meninada, encontre um computador e assista, em conjunto, à websérie “Kigalinha”, que vai ao ar todas as quartas-feiras no site do International Energy Initiative – IEI Brasil. O primeiro episódio já está no ar e pode ser visto aqui.

Talvez seja bom ter algum subsídio, até para os adultos se interessarem. Nesse caso, vale explicar a websérie.

Kigalinha é o nome de uma galinha que veio do futuro para avisar aos habitantes da Terra que os efeitos das mudanças climáticas serão cada vez mais avassaladores. E a bichinha escolhe o Brasil, mais especificamente uma comunidade da cidade do Rio de Janeiro, para contar sua história. Fazendo mais um corte, Kigalinha procura e encontra Chico, o garoto que vai fazer essa viagem ao futuro com a ave.

Kigalinha não recebeu este nome à toa. Na verdade, a ideia do IEI Brasil, em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (ICS) é trazer à baila o tema do Acordo de Kigali, assinado em 2016 por 193 países, que se comprometiam a reduzir o uso do gás hidrofluorcarbonetos (HFC), que causa mais danos à atmosfera do que o CO2. O Acordo de Kigali (chamado assim porque foi assinado em Kigali, capital de Ruanda) propõe que o emprego de HFC, usado como fluido em equipamentos como geladeiras, freezers e aparelhos de ar-condicionado, seja reduzido entre 80% e 85% até meados do século.

A cidade africana, de 12 milhões de habitantes, será assim conhecida pelas crianças que acompanharem a websérie.

Ocorre que, como nós já vimos acontecer algumas vezes, o Acordo de Kigali foi apenas parcialmente cumprido. Até 2019, ou seja, três anos depois de terem firmado o compromisso, somente os países desenvolvidos tinham tomado providências para diminuir o uso de HFC. Com a entrada do negacionista Donald Trump em cena, até mesmo Estados Unidos, que chegou a assinar o Acordo de Kigali, não se movimentou neste sentido.

Mas, aparentemente, as coisas estão começando a mudar. Quando tomou posse, o novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assumiu, no discurso oficial, o compromisso de pôr seu país novamente à mesa das negociações para conter o aquecimento. E conclamou a parceria com outros países que tentam reverter as mudanças do clima para não se chegar ao fim do século com um aquecimento maior do que 1.5 a 2 graus.

Antes de se envolver absurdamente numa guerra, Biden – vejam vocês como essa nossa era é cheia de paradoxos – deu ordens para que sua equipe recupere o papel dos Estados Unidos no Acordo de Kigali, até agora ratificado por 112 nações. Querem mais um exemplo de paradoxo? Lá vai:

O primeiro país que assinou a ratificação do Acordo de Kigali foi Marshall, uma das nações-ilha do Pacífico. Trata-se do lugar mais ameaçado do planeta pelos eventos extremos causados pelas mudanças climáticas.  Seus 62 mil habitantes já tiveram que conviver com o terror das bombas nucleares norte-americanas, pois os Estados Unidos fizeram do local uma espécie de laboratório para testar suas armas nucleares. Hoje os marshalleses ainda não estão livres desse pesadelo, já que há riscos de vazamento radioativo com a subida do nível do mar. E seu território pode desaparecer do Pacífico se a pequena faixa de terra que habitam for cada vez mais submersa pelo mar.

Sobre o envolvimento do Brasil no Acordo de Kigali, pelo menos até um ano atrás estava nas mãos do presidente da Câmara, deputado Artur Lira, botar em votação a ratificação. Se ratificado, é possível que o país possa dar alguns passos em direção a uma sinalização positiva aos investidores sobre seu compromisso com a economia de baixo carbono.

Segundo um estudo feito pelo ICS em cooperação técnica com o Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), aparelhos de ar condicionado mais eficientes produziriam um impacto de R$ 57 bilhões na economia nacional até 2035. Desse total, R$ 30 bilhões deixariam de ser gastos pelo governo na geração de energia elétrica. Outros R$ 27 bilhões seriam economizados pelos consumidores na conta de luz.

Tudo isso para dizer que vale a pena assistir a websérie. E vale a pena trazer a criançada para refletir sobre o tema. Afinal, cada vez mais é do interesse das novas gerações encontrar soluções que possam dar um melhor rumo aos estragos que já estamos causando ao ambiente. De quebra, os desenhos são bem bonitinhos e as locuções estão muito boas.

Amelia Gonzalez é jornalista, foi editora por nove anos do caderno Razão Social do jornal ‘O Globo’ e colunista do Portal G1, também da Globo. Atualmente mantém o Blog Ser Sustentável, onde escreve sobre desenvolvimento sustentável e colabora na Revista Colaborativa Pluriverso e aqui, na revista Entrenós, uma parceria da Casa Monte Alegre e a Pluriverso.

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