A chave da mudança em mãos certas

Sempre que tenho o prazer de cruzar meu caminho com algum bebê, além de oferecer meu carinho genuíno, eu penso em pedir perdão. É claro que o pedido fica apenas em minha cabeça, já que seria totalmente inapropriado dirigir-me assim à criança. Os pais poderiam me olhar de cara feia, com razão. Mas hoje explicarei aqui o motivo que me levaria a tal atitude.

O ponto de partida é que acredito que nós, pessoas nascidas sobretudo depois do fim da II Guerra, mais ainda naquele período que o historiador Erick Hobsbawn chama de Era de Ouro (1947 a 1973) – uma festa de produção e consumo – somos responsáveis pelo estrago no meio ambiente. Escavamos demais a terra em busca de produtos que nos facilitassem a vida e lançamos esses produtos fora de qualquer jeito: a maioria deles foi parar nos oceanos. Para piorar as coisas, muitos gostaram da brincadeira de TER, mais do que de SER. Acumularam riqueza em detrimento de multidões que não têm nada ou quase nada.

Enfim… resumindo: fizemos muita coisa errada. E caberá a esta geração novinha a árdua tarefa de consertar. Talvez o verbo mais adequado seja… remendar.

Precisamos contribuir, de alguma maneira. Mas, a essa altura, além de diminuir nossa pegada, o máximo que podemos fazer, nós pessoas conscientes, é usar nossa experiência para produzir informações que permitam aos mais jovens, ao menos, começar a trilhar o caminho. O resto, eles vão descobrir sozinhos. E não será nada fácil, como sabemos.

O livro “A casa da vida – eu sou um solo vivo”, escrito por Claudio Lucas Capeche, Julia Franco Stuchi e Milena Pessoa Pagliacci e lançado no ano passado pela Embrapa, pode ser considerado assim. Uma boa ajuda. E é possível acessá-lo gratuitamente no site da instituição, o que é melhor ainda porque, pelo menos no quesito “informação de qualidade disponível”, neste ponto estamos acertando. Pode ser acessado aqui: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/228554/1/A-casa-da-vida-2021.pdf.

O foco da publicação é disseminar conhecimentos de práticas agrícolas resilientes, mas, no fim e ao cabo, também contribui para a conservação dos serviços ecossistêmicos e, por consequência, a melhoria da vida no planeta. Nada mal. Até porque é muito bem ilustrado, o que vai atrair a atenção da criançada.

“Vocês sabiam que somos os cuidadores do solo? E que o solo é a Casa da Vida de muitos seres vivos?”

O livro começa com este convite, abrindo caminho para muitas conversas. Sobretudo, conversas que podem ajudar a tirar a pecha de vilania de alguns desses seres vivos, como por exemplo os ácaros. Vejam a importância desses microorganismos para o nosso ecossistema: “Ajudamos a transformar a matéria orgânica em húmus. Deixamos o solo com um monte de comida boa para as plantas e outros bichos”. Muito mais do que provocar alergias nos humanos, como se vê. Basta ter uma leitura não antropocêntrica.

Agricultores e agricultoras também são apresentados no livro.  Eles são os grandes guardiães da Casa da Vida, ou seja, do solo que nos fornece o alimento. Eu incluiria aí os indígenas.  Seguem algumas dicas de pintura, umas páginas para colorir, e assim termina este livro. Simples, mas importante para informar.

Segundo o último relatório da ONU produzido em 2019, a estimativa é de que se perca pelo menos um milhão de espécies nas próximas décadas. Como sempre, os cientistas que assinam este tipo de estudo fazem a ressalva: isto acontecerá se continuarmos a produzir e consumir no ritmo atual. Está mais do que na hora, portanto, de incluir as gerações que serão impactadas e que ainda não têm condições de ir para as ruas fazer manifestações, como fazem os jovens que seguem a sueca Greta Thunberg no movimento Fridays for Future (aqui, o site deles no Brasil: https://www.fridaysforfuturebrasil.org/) ou os aguerridos do movimento “Extinction Rebellion” (veja aqui: https://extinctionrebellion.uk/) .

A esses pequenos, todo o meu respeito. O futuro é de vocês, não se intimidem diante dos percalços. A chave da mudança está em suas mãos.

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