Precisamos falar sobre o Janeiro Branco

No primeiro ano do governo do presidente Lula, um tema sensível ganhou mais espaço: a saúde mental. Desde o dia 25 de abril do ano passado, quando o governo federal sancionou a lei 14.556, o mês de janeiro é dedicado a campanhas de conscientização sobre este tema. O Brasil passou a ser o primeiro país do mundo a ter uma lei federal que institui um mês para se falar sobre saúde mental, e isto é bom e oportuno.

A campanha “Janeiro Branco’ nasceu há dez anos, na cidade de Uberlândia, idealizada por um grupo de psicólogos interessados em acabar com o tabu que ronda o assunto saúde mental. O mais interessante da proposta é a não massificação das mensagens. Saúde mental, segundo os idealizadores, não tem a ver com religião, ideologia política, orientação sexual. Visa apenas ao bem-estar de cada um de nós, individualmente.

A campanha ganhou adeptos, patrocinadores, e os idealizadores decidiram institucionalizá-la. Criaram então o Instituto Janeiro Branco, que já tem um site (https://janeirobranco.com.br/uma-campanha-para-todo-mundo/), com um blog cheio de sugestões para se aplicar o modelo em escolas, igrejas, até shoppings e, sobretudo, empresas.

Em entrevista, o presidente do Instituto e pioneiro na formação da campanha, o psicólogo Leonardo Abrahão, disse que a intenção é chamar atenção para o tema.

“Vamos olhar com empatia, alteridade, estender a mão, treinar a escuta e resgatar o diálogo, que é um potencial humano que pode prevenir muita coisa”, disse ele.

Um relatório publicado pela Organização Mundial de Saúde em 2022, considerado a maior revisão mundial da saúde mental desde a virada do século, dá conta de que, em 2019, quase um bilhão de pessoas – incluindo 14% dos adolescentes do mundo – sofriam com algum tipo de transtorno mental. O suicídio foi responsável por mais de uma em cada cem mortes e 58% dos suicídios ocorreram antes dos 50 anos de idade.

Além disso, ainda segundo o relatório, os transtornos mentais são a principal causa de incapacidade, causando um em cada seis anos vividos com incapacidade. Pessoas com condições graves de saúde mental morrem, em média, dez a 20 anos mais cedo, principalmente devido a doenças físicas evitáveis.

A OMS considera a saúde mental como um “estado de bem-estar vivido pelo indivíduo, que possibilita o desenvolvimento de suas habilidades pessoais para responder aos desafios da vida e contribuir com a comunidade”.

A página oficial do governo federal do Brasil considera que “o bem-estar de uma pessoa está intrinsecamente ligado a uma série de condições fundamentais, que vão muito além do aspecto exclusivamente psicológico”. Como não podia deixar de ser, a saúde mental está relacionada à sociedade, por isso tem “características biopsicossociais”.

“Janeiro Branco”, segundo Abrahão, vem a calhar. Porque é a virada de uma página, o mês em que a maioria das pessoas está pensando em mudar coisas em suas vidas. Agregar o diálogo sobre ‘o que está acontecendo com você hoje”? pode ser um bom inicio de conversa para um novo ano.

Feliz 2024.

Amelia Gonzalez é jornalista, foi editora por nove anos do caderno Razão Social do jornal ‘O Globo’ e colunista do Portal G1, também da Globo. Atualmente mantém o Blog Ser Sustentável, onde escreve sobre desenvolvimento sustentável e colabora na Revista Colaborativa Pluriverso e aqui, na revista Entrenós, uma parceria da Casa Monte Alegre e a Pluriverso.

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