Como e por onde começar?
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Por onde começar? Como começar? Você já fez essas perguntas algumas vezes?

Começar aqui é interromper uma tarefa noutro lado, claro.”

(Gonçalo, p. 25)

“Vínculo, Saúde e Corpo Social” foi a reflexão proposta para a live do Instituto Anthropos de Psicomotricidade na segunda-feira dia 31 de maio. Têm sido encontros de extraordinária riqueza cultural, chance única de reflexão sobre um tempo tão incerto, que merece de nós tantos cuidados. Vale a pena acompanhar.

Neste último encontro, Nuelna Vieira, psicomotricista, terapeuta e coordenadora da Casa Monte Alegre, participou do encontro. Com o texto que segue abaixo, ela respondeu à provocação de reflexão sobre a nossa era:

Nuelna Vieira,psicomotricista, terapeuta e coordenadora da Casa Monte Alegre

Escolhi começar aqui

Aqui com essa emoção em estar aqui

Escolho estar aqui compartilhando com vocês um pouco do que vem me afetando

Afetos que estão presentes

Afetos que me ajudam a gerar saúde

A me sentir potente e viva!

A tarefa aqui é trocar

Você topa começar por aqui?

Algum afeto, alguma ideia, lembrança presente por aí ao começarmos por aqui?

Compartilha no chat, vai trocando com a gente

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Começar

Afetos….

Escolher!

Como essas palavras, esses sons chegam em você?

O que dizem?       Escuta aqui!

Se for possível, te convido a escutar. E não somente assistir

Por onde começar?

Começar aqui é interromper uma tarefa noutro lado, claro. Gonçalo, PG. 25″

A vida acontece

Acontece entre espaços, tempos

Ações, pensamentos

Afetos

Projeções

Ideias, atitudes

Sentir, agir

Dentro, fora

Entre lá, aqui e acolá

Há vida!

Começar aqui interrompe uma tarefa noutro lado, claro.

Claro! Está claro?

O que é isso?

Interromper? Aqui? Começar? Tarefa? Outro lado?

Cada ideia, cada palavra, cada gesto está carregado de um movimento, uma existência.

Cada um é único.

Um é uma multiplicidade em espaços, tempos

Ações, ideias ..

Fiquei intrigada com ela….

Cheia de movimentos: piruetas, saltos, pontes ..

Cheia de expressões: pinta, dança…

Transborda vontades: cozinhar, escrever, desenhar, criar …

Que menina é essa? Claro que me perguntei várias vezes e desde do primeiro encontro.

Essa menina foi chegando e com seu jeito, foi despertando em mim uma menina moleca levada da breca.

‘quando estamos em sofrimento e dor, queremos apenas que os recursos de tratamento sejam eficazes e nos façam renovar forças, recuperar o conforto e o estado de bem estar. Sim, queremos alívio, mas que tal livrar-se do conceito de saúde como conquista de uma vida asséptica, sempre equilibrada e indolor e passar a vê-la como presença, consciência e responsabilidade criativa sobre si e sobre os movimentos de libertação do fluxo de vida?’  Tiene Deccache

Fluxos da vida, caminhos vividos

Vamos começar aqui: fluxos da vida

O que é isso para vc? Fluxos? Vida?

Escuta!

Escolher, começar por aqui interrompe uma tarefa noutro lado, claro

Muitas vezes me sinto confusa, como saber se é desejo ou necessidade? Tem diferença?

Como escolher?

O que ando escolhendo tem sido suficiente? Me alimenta?

Tem comida no prato?

Vacina no braço?

Sapato no passo?

Cobertor de abraço?

É desejo ou necessidade?

Saúde, começar por aqui interrompe uma tarefa noutro lado, claro.

Saúde como caminhar entre limites e potencialidades? Não há equilíbrio

Muito menos dor que não expresse uma necessidade de cuidado.

Escutar a si. Tomar consciência das suas células .

Sentir o que está acontecendo?

Qual a necessidade? Quais tempos, espaços, ações, ideias…. Cuidam!?

“Eis o homem lúcido, aquele que sabe que a sua saúde depende das dietas que a vontade escolhe: dietas de carne, verbo e ideias

E ainda de movimentos e ações. O que escolhemos para comer, o que escolhemos para ouvir e falar, o que escolhemos para ocupar nossa cabeça, o nosso pensamento, o que escolhemos fazer. Eis o que determina o vigor de uma existência ou o seu declínio.” Gonçalo Tavares

Quais as possibilidades hoje de cuidar?

Ando com a sensação que não escutamos

A escuta está alterada

Cheia de ruídos, sons, palavras de ordens…

Ando paralisada, parece que ideias e ações estão embaralhadas

Já não sinto o que preciso

Saio do lugar por excesso de imagens ou por ausência delas

Em cada passo tenho a sensação de uma malabarista

Equilibrando um mundo de coisas

Há tantas coisas

Tantas coisas que me atravessam

Ando querendo compartilhar

Trocar

Sentir

Rir

Ir e vir

Ando querendo cuidar dos meus passos

Sentir o que me move

Sair do lugar implica sentidos, direção,

Uma espécie de deixar-se lançar

Ou um modo de dizer SIM

Sim simmmmm

Passo

Não passo

Ando dando uns passos

E você? Sente essas palavras….

Sente?

Passo

Não passo

Passos

Outro dia ouvi de uma cliente: só consegui dormir quando abracei meu parceiro. Escutar seu coração me relaxou.

Escutar uma pulsação a relaxou

Andamos muitas vezes tão distantes dos pulsos, dos ritmos internos…. Das necessidades

O que estamos cuidando hoje?

Saúde!

Por onde ela anda hoje?

Passo as necessidades

Não passo as obrigações

Passos estão aprisionados

Por onde começar?

Deleuze, ‘literatura é saude’

2000

Tavares, “não há confusão no mundo, há apenas incapacidade do observador para aceitar novas combinações”.

2019

Balzac, “o passo é a fisionomia do corpo.

Não é assustador pensar que um observador profundo pode descobrir um vício, um remorso, uma doença ao ver um homem em movimento?”

E prossegue: a inclinação mais ou menos viva de um dos nossos membros; a forma telegráfica de que ele contraiu o hábito contra a nossa vontade; o ângulo ou o contorno que fazemos descrever são marcados com o nosso querer e são de uma assustadora significação. (…) É o pensamento em ação.

1800

Mova-te para que eu te possa ver a pensar…. Duas formas, pois,  de vermos o que não foi feito para ser visto: a palavra e o movimento.

Tavares

2019

Berge, basta observar a maneira como vivem atualmente as crianças, adolescentes, adultos. Desde a mais tenra infância, são submetidos a uma profusão de informações audiovisuais que absolutamente não fazem apelo a nenhum esforço físico (a maior parte do tempo estão sentados) mas que, ao contrário, estimulam uma curiosidade intelectual polivalente e ávida. Ora, está superexcitação nervosa, associada a uma grande passividade corporal, conduz a um ‘estado anormal’.

Viver por procuração- sem abandonar a poltrona – viagens, amores, riquezas, sucesso guerras, crimes é uma situação falsa que cria insatisfação. (…) Se nós contentamos em permanecer como espectadores, o cérebro se empanturrar, enquanto o corpo permanece esfomeado. Quando o intelecto se torna o único ponto de referência e valorização, estabelece-se uma ruptura profunda na personalidade. Perde-se toda a capacidade de espontaneidade.

1975

Camus, Nada melhor do que uma crise coletiva para revelar ao indivíduo acuado os valores não individuais (políticos, éticos, metafísicos) que constituem sua preciosa individualidade.

1947

Tavares com Balzac, observações sagazes estabelecem igualmente que a inatividade traz lesões ao organismo moral. (…) qualquer órgão perece quer pelo abuso, que rpela falta…

Em seu livro patologia social, Balzac chega a uma das questões mais relevantes: qual a quantidade de movimento aconselhável?

“não se poderiam investigar com ardor as leis exatas que regem, não só o nosso aprelho intelectual, mas também o nosso parelho motor, a fim de conhecer o ponto exato em que o movimento é benfazejo e aquele que é fatal?

Questão simples e antiga: qual a quantidade de movimento que traz saúde física, moral e intelectual?

A civilização corrompo tudo. Adultera tudo, até o movimento.

2021

um convite para afirmar os vínculos, gerar saúde e inventar um corpo social potente, vivo.

Como podemos nos deslocar em direção a saúde?

Eu quero começar por aqui…

E você?

Vamos juntos?!

Eu ando dando uns passos…

Eu ando descobrindo uns passos que não quero deixar passar

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