Este não será um texto somente noticioso. É, antes, um desabafo, um jorro de indignação com os rumos do mundo.
Sinceramente eu não consigo imaginar o que se passa pela cabeça dos homens que têm o poder e estão empenhados em fazer guerras, em matar pessoas, em estressar ambientes por ambição. Já está na casa dos trilhões de dólares o gasto com armas globalmente, e não se conseguiu, até hoje, cumprir o acordo que vem sendo tentado desde 1972, na Conferência de Estocolmo, para assegurar 100 bilhões de dólares ao ano para os países pobres se recomporem dos efeitos das mudanças climáticas.
Impossível entender ou admitir alguma possibilidade de apoiar A ou B.
Feita essa declaração, vou tentar engolir a raiva, a indignação, a impotência diante desse cenário e vou focar em dois grandes acontecimentos atuais que demonstram que a humanidade sabe fazer diferente. Aos irascíveis chefes que mandam cidadãos para campos de batalha ou alvejam civis covardemente, vai um recado (sei que eles não vão ler ou ouvir, mas não me importo): há pessoas que pensam de forma coletiva por um bem comum. Sim, isso existe e é possível.
Temos os Jogos Olímpicos acontecendo em Paris. Embora a organização do evento seja cruel com atletas da Rússia e Bielo Rússia, impedindo-os de levantarem as bandeiras de seus países nas vitórias, é preciso comemorar. São mais de dez mil jovens atletas! Não digo que todos, mas a grande maioria certamente está vivendo dias que serão uma grande marca em suas vidas. É lindo ver como se esforçam, como aproveitam a potência de seus corpos.
Fiquei impressionada com nossa ginasta Flávia Saraiva, que levou uma queda no aquecimento, cortou o supercílio, fez curativo, voltou e cumpriu todo o programa direitinho. O chinês que disparou na frente, no nado de cem metros… alguém reparou no sorriso vitorioso que ele estampou no rosto enquanto aguardava a nota? Bem, não tenho conseguido acompanhar muito, por causa do trabalho, mas vira e mexe eu me pego buscando em sites as cenas olímpicas e me emociono assistindo.
O outro grande acontecimento, que deixa no chinelo e revela a face ignóbil dos que gostam de guerra é a proposta apresentada pelo governo do presidente Lula em Nova York na semana passada. Trata-se da Aliança Global contra a Fome. Diz o site da Agência Brasil:
“Integrantes do governo brasileiro participaram esta semana do Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável, na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York (EUA), e apresentaram a proposta de criação de uma aliança global de combate à fome e à pobreza”.
É isto. Enquanto uns gastam sua massa cinzenta pensando em como tentar caminhar para uma guerra cada vez mais intensa e extensa, outros expõem soluções globais para acabar com a miséria, a fome.
Ainda há tempo.
Amelia Gonzalez é jornalista, foi editora por nove anos do caderno Razão Social do jornal ‘O Globo’ e colunista do Portal G1, também da Globo. Atualmente mantém o Blog Ser Sustentável, onde escreve sobre desenvolvimento sustentável e colabora na Revista Colaborativa Pluriverso e aqui, na revista Entrenós, uma parceria da Casa Monte Alegre e a Pluriverso.